A partir do Resolução 35 de 18 de outubro de 2000, do Conselho Econômico e Social (ECOSOC) da ONU foi criado o Fórum das Nações Unidas sobre Florestas(UNFF)com o objetivo de promover o gerenciamento, a conservação e o desenvolvimento sustentável para todas as Florestas do mundo, bem como estabelecer políticas e compromissos entre as nações com a mesma finalidade. Assim, o UNFF estabeleceu Quatro Objetivos Globais, os encontram dificuldades de desenvolvimento em países com situação econômica vulnerável, baseada na exploração de recursos naturais, como o Brasil. Dessa forma, o presente artigo tem como objetivo discutir a implementação dos quatro objetivos globais ante os desafios enfrentados por países em situação de desenvolvimento econômico.
Palavras-Chave: Fórum das Nações Unidas sobre Florestas (UN FORUM ON FOREST).Desenvolvimento sustentável. Países em desenvolvimento.
- Quatro Objetivos Globais estabelecidos na Um Forum On Forest.
Em outubro de 2000, através da resolução 35, o Conselho Econômico e Social (ECOSOC) da ONU criou o Fórum das Nações Unidas sobre Florestas, com uma missão específica: promover o gerenciamento, a conservação e o desenvolvimento sustentável para todas as Florestas do mundo, bem como estabelecer políticas e compromissos entre as nações com a mesma finalidade. Assim, inspirado nos princípios que regem a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992) e a Declaração sobre Florestas do Rio (1992), o Fórum das Nações Unidas sobre Florestas estabeleceu um plano estratégico para preservação das florestas, pautado em quatro objetivos globais1, quais sejam:
- Reverter a perda de cobertura florestal em todo o mundo através da gestão florestal sustentável, incluindo a proteção, restauração, florestamento e reflorestamento, e aumentar os esforços para prevenir a degradação florestal;
2) Melhorar os benefícios econômicos, sociais e ambientais obtidos às custas das florestas, inclusive por meio da melhoria das condições de vida de pessoas que dependem da floresta;
3) Aumentar significativamente a área de florestas protegidas em todo o mundo e outras áreas de florestas geridas de forma sustentável, bem como a proporção de produtos provenientes de florestas geridas de forma sustentável;
4) Reverter o declínio no desenvolvimento da ajuda oficial ao gerenciamento florestal sustentável e mobilizar recursos financeiros novos e adicionais significativamente aumentados, provenientes de todas as fontes, para a implementação do manejo florestal sustentável.
Os quatro objetivos, expostos acima, sintetizam de forma objetiva e ampla as intenções dos Estados membros com o Fórum sobre Florestas, de forma a ser estabelecido um compromisso, não vinculante, mas que é fundamental para comprometimento dos governos e populações para a concretização e preservação das florestas como um patrimônio da humanidade.
Estabelecidos os quatro objetivos globais elencados acima pelos Estados membro da ONU, passa-se para uma nova fase: a fixação medidas e políticas internas, que estão descritas em 26 alíneas do Instrumento Florestal das Nações Unidas (UN Forest Instrument). Além disso, há uma série de ações voltadas para a cooperação internacional e a implementação dessas medidas.
Trata-se de um processo no qual os Estados se comprometem a submeter relatório periódicos ao Fórum das Nações Unidas sobre Florestas, e ao Secretariado fórum, por sua vez, exerce o trabalho comprometido, imparcial e especializado de fiscalizar e acompanhar a concretização dos quatro objetivos globais, através da implementação do Instrumento Florestal das Nações Unidas.
1 //www.un.org/esa/forests/documents/global-objectives/index.html
A partir dos elementos expostos nota-se que é um projeto estruturado, com finalidades e objetivos específicos para viabilizar a concretização dos quatro objetivos globais para preservação das florestas no mundo. Entretanto, apesar de parecer uma missão viável, não se pode colocar em condições igualitárias países de diferentes níveis de desenvolvimento. Isso, porque em países com sistemas econômicos e tecnológicos desenvolvidos e como cenários políticos mais estáveis, a situação é mais provável, enquanto que o tema é mais delicado quando se pensa em países em condições menos privilegiadas quanto ao bem- estar da sua população, cuja base de sua economia está na exploração de recursos naturais e comércio internacional de commodities como é o caso do Brasil.
- Desafios na Aplicação dos Quatro Objetivos globais: O caso do Brasil
Durante a 9ª sessão do Fórum das Nações Unidas sobre Florestas, em 2010, o Brasil submeteu de forma voluntária um relatório sobre as ações que estavam sendo implementadas no país com o fim de atingir os quatro objetivos globais.
1) Primeiro objetivo: o Brasil promoveu a expansão da área de proteção florestal sob gestão da União, de 64 para 72 milhõesde hectares.
2) Segundo Objetivo: o Brasil promoveu a demarcaçãode mais de 10 milhões de hectares de áreas indígenas; criação de 6 milhões de hectares de reservas extrativistas; bem como o estabelecimento de um sistema para garantir os preços mínimos de produtos florestais de comunidades; implantação de 3 milhões de hectares deassentamentos sustentáveis; além da instituição da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais e o Programa Federal de Gerenciamento Florestal Comunitário e Familiar.
3) Terceiro Objetivo:o Brasil reportou o aumento de áreas de florestas certificadas entre 2004 e 2008, de 300 mil para 3 milhões de hectares, bem como a criação do ICM Bio e do Serviço Florestal Brasileiro.
4) Quarto Objetivo: o Brasil reportou a criação do Fundo Amazônia para levantar financiamentos com base no mecanismo de arrecadação de fundos por meio de doações, gerido pelo BNDES que financia projetos que promovam a efetiva redução de emissões de GEE florestal provenientes de desmatamento, em consonância com o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal e a Estratégia Nacional para REDD+
A partir dos dados expostos acima, verifica-se comprometimento por parte do Brasil em criar planos e estratégias que viabilizem a efetiva concretização dos quatro objetivos globais. Entretanto, a criação de projetos e expansão de áreas de conservação sem a implementação de fiscalização robusta, o desenvolvimento de uma consciência ambiental da população e investimentos financeiros significativos tornam inócuas as medidas adotas. O país torna-se mero gerador de ideias, sem promover efetividade e concretização.
Não obstante, o decorrer do tempo não logrou êxito em demonstrar uma melhora na abordagem brasileira quanto a preservação das florestas para desenvolvimento socioeconômico sustentável desde 2010. Por outro lado, o discurso brasileiro manteve-se o mesmo durante um longo período, de forma que sofreu mudanças mais significativas a partir do Governo Bolsonaro.
O novo e atual governo surgiu com propostas que, ao invés de promover uma maior efetivação dos referidos objetivos globais, coloca o meio ambiente em segundo plano, de forma que se considera pelo novo governo que a preservação é ato que age antagonicamente na conquista do desenvolvimento socioeconômico brasileiro.
Entretanto, em que pese o referido entendimento, durante a participação do evento da UNFF14 (Fórum das Nações Unidas sobre Florestas) foi possível perceber o destaque internacional que o Brasil possui na questão preservação das florestas. E, apesar do país ter deixado de se manifestar expressivamente, a relevância das florestas brasileira no contexto internacional foi notável.
Ademais, o aparente desinteresse do governo brasileiro quanto a preservação das florestas foi evidenciada pelo número de representantes brasileiros no espaço da UNFF 14. Em edições anteriores, o Brasil apresentou-se com ao menos dois diplomatas, bem como contou com a presença de integrantes do Ministério do Meio Ambiente e do Serviço Florestal brasileiro. Na última edição, em 2019, o Brasil foi representado, oficialmente, apenas por uma diplomata.
Dessa forma, é possível notar um retrocesso do Brasil quanto ao reconhecimento da importância da preservação florestas, e assim, sucessivamente, reflexos negativos nas relações internacionais e desenvolvimento econômico sustentável. Isto porque, países considerados socioeconomicamente desenvolvidos, como França e Alemanha, manifestam publicamente discordância quanto a atual política ambiental brasileira.
Não obstante, deve-se ressaltar que os países em situação econômica estável, apesar de manifestarem desacordo com as medidas deixam de oferecer incentivos financeiros para países em desenvolvimento como o Brasil para desenvolver de forma concisa as políticas públicas ambientais.
Nesse sentido, é fundamental o desenvolvimento de um novo paradigma sobre o significado e importância do desenvolvimento econômico sustentável como política publica de longo prazo, a qual tem impactos efetivos na produção socioeconômica brasileira e relações internacionais. Entretanto, é fundamental que os países estáveis ofereçam o devido apoio financeiro aos países em desenvolvimento, como o Brasil, para que o desenvolvimento econômico sustentável seja, também, viável a curto prazo para esses países.
Dra. Fernanda Martins Freitas
Advogada Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica. Especialista em Mercado Financeiro Operador/Banker pela Saint Paul. Atuação em Direito Empresarial com foco em Contencioso Estratégico (Negociação e Arbitragem) e Estruturação patrimonial e tributária.
Contato: fernanda@bpadvogados.com.br
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